Estava refletindo sobre minhas memórias outro dia e percebi que desde que eu me entendo por gente, procuro o real sentido da vida.
Quando eu era pequena olhava para a minha infância pobre, com pai alcoólatra e mãe sofrida, e não conseguia compreender aquilo como vida.
Na adolescência, com os pais já separados, eu não conseguia aceitar que tudo tivesse que se resumir a acordar, limpar a casa, cozinhar, cuidar dos irmãos pra mãe trabalhar e esperar o tempo passar. Não! Eu precisava estudar! Eu queria demais criar uma vida diferente para mim.
De alguma forma eu sabia que se eu conseguisse isso eu teria uma chance de fazer diferente do que fizera minha mãe, mas sempre reclamando da vida como se fosse o seu carma sofrer. Não! Eu definitivamente não queria aquilo para mim.
Eu sonhava com a minha liberdade, achando que o tempo fosse trazê-la para mim. Queria ter 18 anos logo, mas com 16 fui à luta procurar emprego, enquanto cursava o técnico de secretariado, profissão que escolhera para ganhar meu próprio dinheiro, com os meus esforços e talentos para me realizar e ser feliz.
Logo, o princípio que me movia era liberdade. E eu achava que o estudo, o trabalho, e o dinheiro eram os meios ideais para aquele momento da minha vida. E assim foi. Comecei como Auxiliar Administrativa aos 16 e aos 24 já era a secretária do presidente de uma multinacional.
Só que entre o sonho e a realidade, existe o caminho. E nele, estão as pedras que precisam ser coletadas para a construção do mundo que se idealizou. Aos 24 anos também me casei, porque novamente queria a minha liberdade. Confesso que a convivência com minha mãe era um grande desafio, que no futuro não tão distante, foi deslocada para um relacionamento conflituoso que terminou com uma separação após 17 anos de tentativa de convívio.
A parte boa foi a felicidade de ser mãe de duas almas preciosas que Deus me confiou para guiar. No mais, foram anos vivendo no piloto automático da alma que se aprisionou no esquecimento de si mesma. Enquanto pouco-a-pouco fazia um longo processo de descida ao fundo do seu vale para resgatá-la com a ajuda daquele relacionamento no qual projetei minhas culpas e medos.
Com a separação virei a chefe da família, e decidi retomar o meu sonho de estudar. Desde os 33 anos estudava Astrologia, e aos 40 consegui realizar o sonho de me sentar pela primeira vez no banco de uma faculdade para cursar Psicologia. Eu sonhava em ajudar pessoas a lutarem por seus sonhos, assim como eu.
Prestei o vestibular e passei! Assim, como mágica de quem sonha e luta para tornar seu sonho uma realidade. Foram 7 anos entre graduação e pós graduação, enquanto os filhos na puberdade e adolescência cresciam. Fase difícil aquela. De múltiplos sentimentos de amor e dor, na tentativa de se dividir em múltiplas faces, secretária executiva, mãe, estudante universitária e astróloga nas horas vagas na construção do plano B da carreira.
Mas olhando para trás, me vem um sentimento tão profundo de fé e superação que me faz olhar para frente, especialmente neste momento tão difícil em que vivemos, com a confiança de que sim! Tudo começa quando nascemos. Chegamos aqui prontos, em formato de semente que cabe a nós cuidar com amor até romper a casca e florescer. Os frutos desta árvore é o nosso legado.
Eu quero deixar o exemplo de uma pessoa que nasceu para transformar o seu vazio em um sem fim de experiências até conseguir compreender que a plenitude sempre foi a base para todas as suas escolhas e conquistas.
E você? Qual é o legado que você quer deixar para este mundo?